Promete amor, entrega pavor

O medo não começa com um tapa — começa com um elogio disfarçado de censura. E o homem que bate é o mesmo que, dias antes, jurava amor eterno.

MULHER

Jorge Gomes

7/25/20252 min ler

woman's portrait
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ÓBIDOS (PA) — 23/07/25
Nem todo grito faz barulho.
Alguns moram nos olhos baixos, no “tá tudo bem” murmurado com medo.
Nem toda prisão tem grades. Às vezes, ela vem com aliança no dedo e beijo no rosto em público.

Essa é a rotina de milhares de mulheres que vivem com um inimigo que chamam de amor.
Um homem que sorri na frente dos outros e morde quando a porta se fecha.
Um covarde.
Que jura amor e entrega medo.
Que bate e depois chora, dizendo que foi a última vez — como se lágrima lavasse culpa.

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mais de 245 mil mulheres gritaram por socorro.
E isso é só o que foi ouvido.
O restante, o que não vira estatística, segue vivendo noites inteiras com o coração engasgando de pavor entre quatro paredes.

⚠️ O início não tem grito — tem veneno

A violência não começa com o soco.
Ela começa com o “onde você vai com essa roupa?”,
com o “essa amiga não presta”,
com o “não posta isso”,
com o “só eu te amo de verdade”.

É um ciúme educado que vira jaula.
Um amor que precisa de GPS, senha e silêncio.

“Se me deixar, eu me mato.”
“Você me faz agir assim.”
“Ninguém vai te amar como eu.”

Mentira.
Ele não ama — ele domina.
E o silêncio dela é a prova de que ele está vencendo.

🌙 O terror começa quando o mundo dorme

A maioria das agressões acontece entre 18h e 23h59 — o horário em que o Brasil assiste novela e a vizinha não ouve nada.
Quando o agressor se sente seguro, em casa, longe de olhares.
Ali, o lar vira cativeiro.
E a mulher que um dia sonhou em ser amada, agora conta os segundos para sobreviver à próxima noite.

🧠 Recomeçar é mais forte que suportar

O amor verdadeiro nunca exige submissão.
Nunca manda calar.
Nunca diz que “apanhou porque provocou”.

Se você sente medo, isso já é um aviso.
Se dói calar, é hora de gritar.

Fugir do agressor não é covardia — é heroísmo.

📞 Ligue. Mesmo com medo.
📲 180 – Central de Atendimento à Mulher (24h, anônimo, gratuito)

A covardia do homem que bate não é só o que destrói.
O que destrói é a sociedade que finge que não vê.
Mas aqui, a gente vê.
E grita por quem já não consegue gritar.

Gazeta da Mata — Informação que incomoda, porque precisa.

Se quiser, posso montar uma versão com arte para post, zine ou vídeo. É só dizer o formato.